JUDY BECKER - INSPIRAÇÕES VISUAIS
Trago mais um artigo publicado pelo site Filmmakers Magazine sobre Judy Becker (deixo o link do primeiro post sobre a Designer no final deste texto). Em comemoração do vigésimo quinto aniversário da revista, pediram a Judy Becker que escrevesse um pouco de como usa o seu instagram para guardar fotos de reconhecimento de locais para filmagens e outras inspirações que inevitávelmente tomam lugar em muitos dos seus projectos.
Judy Becker escreveu-lhes de volta o seguinte:
"Estou feliz que tenham gostado do meu instagram.
Tenho tirado fotografias ao longo de praticamente toda a minha vida. Ganhei a minha primeira câmera quando tinha mais ou menos sete anos, quando a minha família passou um verão em Rotterdam na Holanda, a primeira viagem à Europa de todos nós.
Os meus pais eram bastante despreocupados e por isso lembro-me de andar sozinha, de tirar fotos de edifícios e objectos inanimados - uma bola de tennis vista através de uma cerca de ferro por exemplo. Por isso, não mudou muita coisa desde então.
Eu tiro fotos quando ando pela cidade e sempre que estou - na sala de espera de um consultório médico, numa casa-de-banho pública, numa lavandaria - Consigo encontrar sempre algo interessante. Eu trabalho bastante nos locais de filmagem e nenhum outro lugar poderia ser aborrecido para mim - a câmera do meu telemóvel é tudo o que eu preciso. Apesar de tirar fotografias de muita coisa, sou especialmente atraída por coisas que possivelmente irei usar no trabalho - sinais, por exemplo- É tão dificil fazer um sinal realista para um filme, por isso eu colecto o máximo de exemplos de sinais reais para quando eu preciso. (No entanto, nunca ponho os melhores no instagram!)
Por uns tempos, enviei por e-mail fotografias particularmente inspiradoras a amigos e colegas de trabalho que achava que iriam apreciar. Não sou interessada em publicar nada sobre mim, nunca fui muito interessada em redes sociais.
Porém, em 2012, estava no Sundance Film Festival por causa do filme de Rick Alverson's "The Comedy", o qual o meu marido havia editado. Um dos produtores reparou que estava a tirar fotos do apartamento que ele e outros productores estavam a partilhar (Eu estava a fotografar a confusão que haviam criado depois de dias a viverem lá) e contou-me sobre o instagram. Ainda me levou alguns meses para tentar de verdade, mas uma vez que o fiz, comecei a publicar regularmente.
Para mim, a função do instagram era óbvia - era conveniente para manter um diário visual e também útil como catálogo de referências de bolso (restos de comida, ghost signs, janelas de embarque e por aí).
Eu não tinha noção da visão diferente que as pessoas tinham do instagram até que tive uma reunião com um realizador num café em Hollywood. Quando começamos a criar um vínculo sobre o nosso hábito do uso do instagram, ele diz-me "Sim, é uma óptima maneira de deixar as pessoas com ciúmes".
Oh.
-Judy Becker"
O texto abaixo é uma continuação, onde Judy Becker descreve algumas das suas fotografias, como não tenho autorização para as colocar aqui, vou apenas traduzir o texto dela e no final deste post podem encontrar o link onde podem ver as imagens.
Imagem 3: "Trabalhei em dois filmes em Boston, ambos durante o Inverno. Cresci em Nova Iorque e sei como são dias de neve, mas não sabia que as filmagens de um filme os podiam ter também. Isto é das filmagens de Joy em 2015. Eu adoro esta foto e não só pelas memórias ( como quando o telhado do nosso palco cedeu devido ao peso da neve, e não soubemos durante uma ou duas semanas se seríamos autorizados a voltar a entrar). Adoro principalmente a sujidade, um fascínio meu, e algo que colocaria na minha "biblioteca" de referência cénica"
Imagem 4: "Outra coisa boa de fazer busca por locais é a oportunidade que me dá para vasculhar por aí e tirar fotografias de aspectos escondidos da vida das pessoas. Eu adoro abrir armários e portas de guarda-roupas, especialmente quando estão na casa de tenha vivido lá por muito tempo. Esta despensa estava numa casa muito elegantemente decorada, de estilo espanhol de meados do século, em Los Angeles. Adoro as formas e tamanhos extremamente variados dos produtos alimentares amontoados e a forma como os sacos de plástico estão pendurados nos ganchos criam um proscénio.
Imagem 5: "A procura de locais pode ser aborrecida, mas quando vejo uma casa como esta, faz com que todas as "McMansions" valham a pena. A realidade é realmente mais estranha do que a ficção e é por isso que é tão difícil fazer um conjunto parecer credível - são todas as pequenas coisas. Este quarto estava numa casa antiga muito bonita e grandiosa, num condomínio fechado perto de Hancock Park. O cavalheiro que lá vivia tinha passado toda a sua vida na casa. Nunca poderia ter inventado o caixote do lixo plástico com o forro de plástico branco ao lado daquela cama rococo ou o jornal empilhado ao pé dela."
Imagem 6: "Estava a passear pelo centro de Memphis, uma cidade que visitei pela primeira vez em 2015 como júri do Festival de Cinema Indie Memphis, quando vi estes edifícios. Adoro a arquitectura brutalista. Para mim, parece-me tão moderna e presunçosa como deve ter parecido a Truffaut e Antonioni."
Imagem 7: "Tornei-me mais purista do Instagram, por isso é um pouco estranho olhar para trás, para alguns dos meus posts mais antigos e ver o quão era o filtro deles.
Tirei esta foto em Ohio, a norte de Cincinnati, enquanto procurava locais para o filme Carol no início de 2014. As montras da época são difíceis de recriar e estou sempre à procura de exemplos de placas fabricadas que não parecem pitorescas ou esquisitas. Adoro a escala e a simplicidade gráfica de letreiros enormes como este. Também senti-me atraída pela forma como este letreiro envelheceu e está a começar a desfazer-se."
Imagem 8: "Esta não é tanto uma inspiração para mim como um encapsulamento de referências, memórias e ideias. Tirei-a enquanto buscava locations em Long Beach para o filme Battle of the Sexes. Adoro a paleta de cores, que faz lembrar a que usei na Carol. Mas também me faz lembrar a cena em Brokeback Mountain onde o Heath Ledger come tarte sozinho no café da estação Greyhound. Ao planear essa cena, Ang Lee e eu por vezes referiamos-nos a ela como a cena "Edward Hopper". E esta mulher a comer sozinha num restaurante lembrava-me definitivamente um quadro de Edward Hopper."
"Tantas vezes, as referências vêm em círculo completo. E penso realmente que esse é o núcleo do meu trabalho."
Texto original:
https://filmmakermagazine.com/103255-judy-beckers-instagram/#.X_sri-j7RPY
Primeiro post sobre Judy Becker:
https://carlapereira-productiondesign.blogspot.com/2021/01/judy-becker.html



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